quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cansada, ou não!

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos








"Compartilho este cansaço... e em lapsos de descanso me canso de novo... o eterno retorno - viver, fenecer, reviver, se reconhecer - é assustador e alentador... na angústia da repetição, que me perseguiu, e ainda me persegue, percebo que a ressignificação dos momentos e histórias foi e, aparentemente, está sendo muito importante... parece que pingam um colírio nos olhos, na alma, no coração... sabe-se lá qual a duração deste efeito e as consequências colaterais... mas, com a memória das vivências (boas e ruins), torço para que a razão auxile, a emoção sobreviva e o eterno retorno seja mais terno." (anônimo)
                                              
Apesar das aparentes repetições eu continuo virgem em cada escolha, pois, nem eu sou a mesma, nem o mundo a minha volta....enfim... não pode ser repetição. Estou sempre começando.

                      

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